segunda-feira, 28 de março de 2011

PASSADO TURVO, FUTURO SOMBRIO

Protestos no Oriente Médio fazem balançar o terceiro governo ditatorial em apenas quarenta dias. Muamar Kadafi não fará falta, mas o risco islâmico é ainda maior na Líbia do que no Egito e na Tunísia.
Estima-se que mais de 1000 manifestantes líbios tenham sido mortos por tropas leais a Kadafi nas últimas duas semanas. A Líbia não tem exército forte, capaz de impedir que o caos se instale após a queda do governo. Por esse motivo, e pelo fato de as manifestações terem adquirido um caráter de levante armado, o risco de uma guerra civil é real - e assustador.
A região leste da Líbia é o berço do movimento jihadista no país. Ali nasceu o Grupo Islâmico de Combate Líbio, formado por líbios que lutaram contra os soviéticos no Afeganistão, ao lado do Talibã. Em meados da década de 90, o grupo tentou derrubar Kadafi, no que foi apoiado por grande parcela da tribo warfala, uma das mais numerosas do país, e acabou esmagado pelas forças do governo. Muitos de seus remanescentes se uniram à Al Qaeda no Iraque e no Afeganistão. A existência de inúmeros jihadistas dormentes no leste líbio explica a cautela dos Estados Unidos e dos governos da Europa com o levante contra Kadafi. Aos protestos no Egito e na Tunísia o presidente Barack Obama reagiu pedindo a renúncia dos ditadores. Em relação à Líbia, apenas criticou o assassinato de opositores.
o cuidado tem fundamento. Os islamistas líbios não só têm experiência em combate, conhecimento em técnicas de explosivos e vocação para o martírio como contam com a grande probabilidade de surgir um vácuo de poder no país, no futuro próximo.  A população líbia é formada por nada menos do que 140 tribos diferentes, algumas das quais têm muitos privilégios a perder com o ocaso de Kadafi. 
Os recentes protestos começaram no dia 15 de fevereiro na cidade de Bengasi, motivados pela prisão de Fethi Tarbel, advogado das famílias dos 1270 detentos mortos em um massacre na prisão de Abu Salim, em 1996. A multidão foi reprimida a tiros. 
A Líbia fica melhor sem Kadafi. Mas antes disso pode até piorar.

Fonte: Revista VEJA 02 de março de 2011 - pg. 74 - 80.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seguidores

Arquivo do blog